E você, tem medo da Inteligência Artificial (IA)?
Deveria! Uma afirmação que vinha sendo feita com frequência era: “A Inteligência Artificial (IA) não vai substituir você, mas uma pessoa que estiver utilizando inteligência artificial VAI substituir você.” Pois bem, o avanço exponencial com que esta tecnologia vem crescendo, em particular depois da popularização dos modelos de linguagens amplas (LLM – Large Language Models), em especial através do ChatGPT, lançado em novembro de 2022, sugere que esta substituição possa ocorrer efetivamente num número significativo de atividades, de forma muita mais rápida do que se poderia imaginar. A produção de textos, sons, imagens e até mesmo código através de novos modelos de linguagem, como da IA generativa, tem avançado de forma muito rápidal.
Tendências e Dados de Mercado
O Fórum Econômico Mundial prevê que 75% das empresas estarão usando tecnologias de IA até 2027. Na área de projetos, estas ferramentas já conseguem apoiar as equipes nas mais diversas formas, aumentando a probabilidade de sucesso na entrega dos resultados esperados.
O ChatGPT passou a ser uma ferramenta de uso diário pelos mais diversos profissionais e a empresa OpenAI, sua criadora, já atingiu uma receita anualizada de US$ 1 bilhão (outubro de 2023).
O Gartner acredita que mais de 80% das empresas estarão usando interfaces, modelos e software de programação de aplicativos de IA generativa em ambientes de produção até 2026, ou seja, amanhã!
É claro que não é necessário grandes habilidades em futurismo para se afirmar com grande convicção que o Gerente de Projetos (GP) deverá se “reprogramar” para conduzir um projeto e uma equipe (onde e se ele ainda for necessário). Enquanto a IA vai se ocupar de atividades recorrentes e repetitivas, o GP deverá ter mais foco no pensamento estratégico, no planejamento de alto nível e principalmente nas chamadas habilidades interpessoais (Power / Soft Skills), enquanto os algoritmos de IA não chegarem ai também.
Perspectivas Futuras e Desafios
Aquilo que se considerava num horizonte mais longo, a chamada Inteligência Artificial Geral, situação em que uma máquina seria capaz de realizar qualquer tarefa intelectual humana, parece estar muito mais próxima de se concretizar.
Mas instigantes também são as reflexões que o cofundador da empresa DeepMind, Mustafa Suleyman, nos traz no seu livro The Coming Wave1, lançado no último mês de outubro.
Ao abordar as múltiplas implicações que a IA já está produzindo na nossa sociedade e o que ainda está por vir num curto espaço de tempo, afirma que as “as áreas em que os humanos ainda sairão melhor que as máquinas são poucas”. Se até agora estas ferramentas têm aumentado a inteligência humana, não é difícil prever que num futuro muito próximo, estarão realizando o trabalho cognitivo de maneira muito mais eficiente e barata que muitos de nós. No entanto, segundo ele, “novos empregos não surgirão em números e escalas de tempo suficientes para realmente fazer diferença”.
O próprio PMI, preocupado em apoiar os gerentes de projeto nesta evolução tecnológica, criou recentemente um “hub” para compartilhamento de conhecimentos e conectar estes profissionais na troca de experiências, o PMI Artificial Intelligence in Project Management2. Entre os documentos compartilhados recentemente destaco o “Shaping the Future of Project Management with AI”3, onde está o alerta para a necessidade urgente dos gerentes de projeto se requalificarem. Os resultados de uma pesquisa recente realizada pelo Instituto, mostram que apenas 21% dos gerentes de projetos participantes revelaram ter um bom domínio prático com técnicas e ferramentas de IA, enquanto 49% destes profissionais tinham pouca ou nenhuma experiência com IA no contexto de gerenciamento de projetos.
Embora as ferramentas de IA generativa possam hoje apoiar o GP num grande número de tarefas, é fundamental que ele (ainda) esteja envolvido na avaliação dos resultados obtidos para os eventuais ajustes que se façam necessários, o que tem se chamado de “human-in-the-loop approach”. Esta intervenção humana será tão intensa quanto for a complexidade da tarefa.
A IA generativa pode automatizar tarefas que eram realizadas pelo GP (como relatórios que podem ser emitidos agora inclusive em tempo real e com uma análise muita mais abrangente dos dados), mas pode também interagir com o GP e apoiá-lo na execução de tarefas que exijam a interação com muitas variáveis (como análise de custo/benefício ou análise de riscos) ou ainda potencializando a capacidade do GP em tratar outras tarefas com maior assertividade (como desenvolvimento de planos de negócio complexos considerando múltiplos cenários).
O PMI sugere o uso do seu Triângulo de Talentos como um guia para o desenvolvimento de habilidades que o GP precisa desenvolver ou aperfeiçoar para o uso mais efetivo da IA generativa.
Tenho sempre um olhar especial para as Power Skills, onde a IA não consegue replicar o humano (ainda) e que, portanto, exigem que o GP tenha um conhecimento e habilidades cada vez efetivas. Comunicação eficaz e empatia, adaptação ou criação de novas soluções de forma intuitiva, decisão em ambientes com ambiguidade, negociação e gerenciamento de partes envolvidas, liderança e motivação de pessoas, habilidade e agilidade na resolução de problemas e pensamento estratégico, são algumas delas.
No entanto, muitas vezes, estas mesmas tarefas podem ser potencializadas pelo uso da IA Generativa. Se a comunicação eficaz ainda é uma habilidade humana, por exemplo, a IA pode apoiar numa formatação mais adequada de um plano de comunicação, considerando as múltiplas necessidades e particularidades de um grupo de stakeholders e diante de uma análise de cenários mais ampla.
Outra importante ferramenta disponibilizada pelo PMI recentemente, ainda em teste nesta data, é o AI Assistant5, plataforma que pode apoiar o GP em várias tarefas, desde comunicação e colaboração até na elaboração de cronogramas, alocação de recursos e gestão de riscos.
Discussão sobre a Segurança na IA
Embora IA possa trazer grandes soluções para nossos problemas da sociedade atual, também há riscos que devem ser avaliados. Neste sentido, o governo inglês organizou o AI Safety Summit no último mês de novembro, reunindo políticos, executivos e pesquisadores de IA de 29 países (incluindo Estados Unidos, China, União Europeia entre outros) para debater os riscos que a IA poderá oferecer para nós, mortais humanos. O comunicado conjunto publicado e já conhecido como a Declaração de Bletchley4, destacou por um lado os indiscutíveis ganhos e benefícios que esta tecnologia pode trazer para os inúmeros desafios que a humanidade enfrenta, mas também, e principalmente, contextualizando os potenciais “danos graves e até catastróficos” que poderá trazer de forma deliberada ou não intencional (desenvolvimento de armas químicas e biológicas, ataques cibernéticos, fraudes, deepfakes, entre outros). Para isto, os signatários conclamam por uma colaboração internacional no desenvolvimento seguro da IA destacando “a necessidade urgente de compreender e administrar coletivamente os riscos potenciais da IA”.
No entanto, também não se pode ignorar o esforço que cada uma destas nações continua fazendo para garantir uma posição de relevo nesta corrida pelo domínio destas tecnologias, em particular os próprios americanos. O desafio será consensar salvaguardas sem, no entanto, obstaculizar a inovação que já ocorre nos grandes players tecnológicos.
E por último
A história tem mostrado que a difusão de uma nova tecnologia, suportada por custos decrescentes e facilidade de uso, assegura uma efetiva e inexorável disrupção. Assim, foi com a lâmpada elétrica, levando a falência fabricantes de velas e com o automóvel eliminado carroças, cocheiros e estábulos, por exemplo. Parece que a inteligência artificial vem desempenhar este papel disruptivo agora. E nós, como gerentes de projeto, precisamos “desaprender” e “reaprender”, muito rapidamente.
Em conclusão, a interseção entre inteligência artificial e trabalho humano redefine os paradigmas profissionais e exige uma resposta proativa para moldar um futuro em que a IA seja uma aliada, não uma ameaça. O desafio está não apenas na adaptação individual, mas também na construção de estruturas éticas e regulatórias que garantam o desenvolvimento responsável e seguro da Inteligência Artificial.
(A propósito, o último parágrafo foi “escrito” pelo ChatGpt 3.5, após “ler” o meu texto anterior. Achei que ficou bem adequado!!)
Texto concluido em 18.12.2023
Por Marco Antônio Kappel Ribeiro.
Referências:
1-The Coming Wave - Technology, Power and the 21st Century’s Greatest Dilemma. Mustafa Suleyman and Michael Bhaskar, 2023, Crown Publishing Group.
2-https://www.pmi.org/explore/ai-in-project-management \
3-https://www.pmi.org/learning/thought-leadership/ai-impact/shaping-the-future-of-project-management-with-ai
4-The Bletchley Declaration by Countries Attending the AI Safety Summit, 1-2 November 2023
https://www.gov.uk/government/publications/ai-safety-summit-2023-the-bletchley-declaration/the-bletchley-declaration-by-countries-attending-the-ai-safety-summit-1-2-november-2023
5-https://aiassistant.pmi.org/login
